Resumo
Durante os primeiros cerca de 70 anos do século XIX o número de crianças abandonadas aumentou dramaticamente. Uma das razões residia na legalidade do abandono anónimo infantil, comum aos Estados católicos do sul europeu e materializada nas rodas, mecanismo giratório que permitia deixar a criança na instituição sem que o expositor fosse identificado.
Tentando combater esta hecatombe e a elevada mortalidade destes menores, iniciaram-se debates sobre o fim do das exposições anónimas legais. A situação era particularmente gravosa na capital, onde a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tutelava a criação dos expostos, tendo aí sido abandonadas anualmente quase 3 000 crianças em meados de Oitocentos. Por este motivo, em Lisboa, a partir do final de 1870, o abandono anónimo infantil foi penalizado. Passou-se da criança abandonada para a criança assistida (e subsidiada), incentivando-se a responsabilização parental.
Como se processou esta mudança na cidade de Lisboa? Diminuiu o número de abandonos? Quem abandonava estas crianças? De que localidades vinham? Para onde eram enviados os expostos para criar? Como era o percurso de vida de uma criança abandonada tuteala pela Misericórdia de Lisboa? Existia possibilidade de ser integrada numa família e na sociedade? Estas (e outras) são algumas das questões às quais se procurará responder.
Joana Vieira Paulino
Instituto
de História Contemporânea
Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
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