sábado, 22 de junho de 2019

5.ª Conferência: Pelas ruas vagueiam cães danados (...) por Inês Gomes



Pelas ruas vagueiam cães danados, passeiam cães amigos: companheiros ou praga na Lisboa do século XIX?

RESUMO

A historiografia portuguesa, com poucas exceções, e ao contrário do que tem acontecido nos Estados Unidos e em outros países europeus, não tem dado centralidade aos animais não-humanos como sujeitos culturais. Todavia, também em Portugal, no contexto urbano, tanto as posturas municipais, quanto os relatos de estrangeiros, indiciam uma relação conflituosa entre habitantes humanos e não-humanos que moldou os quotidianos das cidades. De facto, o grande desenvolvimento de Lisboa no século XIX implicou uma gestão da coabitação destes diferentes habitantes da capital portuguesa.

Esta comunicação procurará identificar e descrever alguns dos actores que se envolveram na problemática da gestão da vida quotidiana na cidade de Lisboa no que concerne às interações entre cães e Lisboetas na segunda metade do século XIX, quando o amistoso e útil cão se tornou um potencial inimigo para a saúde pública. Visões diferentes colidiram em relação às medidas que deveriam ser tomadas para controlar os cães vadios, potencialmente propensos à raiva, interagindo na delineação das políticas urbanas. A cidade não era vista, apenas, como um lugar onde os cães com raiva deveriam ser erradicados, mas, também, como um local de violência contra os animais, em geral, e contra os cães, especificamente. Como moldaram os cães o espaço da cidade e as práticas dos seus habitantes ao longo do tempo no contexto dos esforços políticos para controlá-los e excluí-los? Como podem as pragas urbanas contribuir para a compreensão da história da cidade? Estas são algumas das questões que se pretende discutir.


NOTA BIOGRÁFICA

Inês Gomes (CIUHCT/FCUL) é doutorada em História e Filosofia das Ciências (FCUL), mestre em Georrecursos (IST) e licenciada em Biologia (FCUL). É, desde 2017, investigadora de pós-doutoramento no CIUHCT.

A sua investigação iniciou-se na área da ecologia, tendo-se debruçado no doutoramento, defendido em 2015, sobre o património científico, que, de uma forma geral, se encontra numa situação de grande vulnerabilidade, desconhecendo-se o que existe, onde existe e qual o seu estado de conservação. Em particular, a sua tese centrou-se sobre a génese e evolução das colecções escolares de história natural associadas aos liceus portugueses, à luz da história das ciências e da educação, partindo da cultura material como ferramenta para aprofundar o conhecimento da prática científica e pedagógica. Aspectos ligados à forma como as colecções de história natural foram utilizadas, assim como a sua importância actual, quer para as respectivas instituições, quer para a comunidade científica e para a sociedade portuguesa, em geral, foram, igualmente, centrais no projecto desenvolvido.

Mais recentemente, tem estado envolvida em projectos na área da história ambiental e da história urbana das ciências, nomeadamente nos projectos “Introductions, invasions and control measures of plant pests in Southern Europe. An interdisciplinary comparative approach from the 19th century onwards” e “Visions of Lisbon: Science, Technology and Medicine and the Making of a Techno-Scientific Capital, 1870-1940”.

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