Resumo
A narrativa de alguns escritores atenha-se em determinados territórios sentimentais que servem de base à criação simbólica de representações literárias. Na verdade, através da análise de algumas obras literárias descobrimos o ajustamento ficcional entre os lugares narrados e aquilo que na realidade existe.
Nesta conferência destacaremos os territórios literários e emocionais erguidos na Avenida Almirante Reis. Usaremos o trajeto emocional dos escritores e das suas ficções para atestar e compreender o seu desenvolvimento urbano.
De seguida, capturaremos a cartografia de mobilização republicana, ou o balanceamento emocional de Fernando Pessoa, e de uma parte da geração de Orpheu, que levariam o poeta da heteronímia a confessar num pedacinho de escrita epistolar: “há dias passava eu de carro na Avenida Almirante Reis. Levantando os olhos por acaso, leio no cabeçalho de uma loja: Farmácia A. Caeiro”.
Na ditadura do Estado Novo associaremos a cadência de apropriação revelada através de uma boémia que se espessava em torno dos cinemas populares e das cartografias dos cafés e bares, onde ninguém estava “livre de apanhar com um poeta à deriva pela proa”, como nos legou José Cardoso Pires.
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Por fim, desaguaremos no 25 de Abril e na sua intensidade cenográfica, dando forma à expressão de que a cidade soube tornar-se num cenário de um “teatro espontâneo no qual” cada um se torna “espetáculo e espectador, às vezes actor” (Lefebvre, 1970).
Nota Biográfica | Aquilino Machado
Professor assistente convidado no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT), e Investigador associado dos Núcleos ZOE - Dinâmicas e Políticas Urbanas e Regionais - e TERRITUR -Turismo, Cultura e Território - do Centro de Estudos Geográficos (CEG), Universidade de Lisboa, tem desenvolvido o seu interesse de pesquisa nos campos da geografia cultural e urbana. Mestre e doutorando em Geografia Humana, encontra-se a concluir um projeto sobre os territórios literários urbanos em Aquilino Ribeiro, e a geografia emocional vivida e recriada nas cidades de Lisboa e Paris.
Entre, 2008 e 2013, deu aulas na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE), onde obteve o título de Especialista na Área de Turismo, desenvolvendo, para o efeito, um trabalho de investigação em torno da importância do turismo literário.
De 1997 a 2012 integrou os quadros da empresa Parque EXPO’98, S.A.
Nos últimos anos tem trabalhado como guionista de documentários e preparado conteúdos para itinerários culturais que nos falam da importância da memória na cidade de Lisboa.
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