quinta-feira, 23 de maio de 2019

4.ª Conferência: A paisagem alimentar histórica de Lisboa, por Mariana Sanchez Salvador


A Paisagem Alimentar histórica da cidade de Lisboa

Uma Paisagem Alimentar pode ser entendida como a materialização, no espaço, das actividades associadas a cada etapa do sistema alimentar: da produção ao processamento de alimentos, da sua distribuição à comercialização, até à sua preparação, consumo e gestão dos resíduos. Nesta concepção, incluir-se-ão tanto os seus aspectos materiais como imateriais, sob a forma de recursos naturais e humanos, infraestruturas, conhecimento e cultura, e que se manifestam a diferentes escalas territoriais e urbanas. Haverá, então, uma variedade de paisagens alimentares tão vasta como a das
comunidades que lhes dão origem, diferentes consoantes os contextos geográficos e históricos, e em permanente mutação segundo as dietas praticadas.
Procurar-se-á, aqui, delinear uma Paisagem Alimentar histórica para a cidade de Lisboa, com maior enfoque no início do século XX. Compreender a natureza e a localização dos seus espaços de produção alimentar — hortas, campos, pomares, olivais e vinhas — e a sua ligação com a topografia e a estrutura urbana. Identificar os seus caminhos terrestres e os pontos de distribuição fluvial e perceber o seu impacto na organização da cidade e na sua toponímia. Explorar os seus mercados e lojas e a relação que estes pontos de venda mantinham com os fluxos de produtos alimentares que à cidade chegavam. Assim, a partir da Carta de Silva Pinto (1904-1911), e recorrendo a outras fontes como descrições literárias, bibliografia e fotografias históricas, serão identificados e descritos estes espaços de produção, distribuição e comercialização de hortícolas, frutícolas e carne. Mais do que um mapeamento exaustivo, contudo, procurar-se-á transmitir a ambiência desta paisagem alimentar histórica, e estabelecer paralelismos com a realidade contemporânea, pondo este conhecimento histórico ao serviço de um futuro mais sustentável.

Nota biográfica

Mariana Sanchez Salvador (Lisboa, 1986) é arquitecta e investigadora. Trabalhou no atelier Carrilho da Graça Arquitectos, onde colaborou em numerosos projectos, desde a escala urbana aos equipamentos públicos, reabilitação e intervenções temporárias. A sua investigação foca-se na forma
como os espaços que habitamos — da cidade à casa — são transformados pela nossa alimentação, e pelas actividades que lhe estão associadas. É autora de várias publicações nacionais e internacionais, e tem sido convidada para conferências e entrevistas. Recebeu o Prémio Arquiteto Quelhas dos
Santos pela melhor Dissertação de Mestrado em Arquitectura (FAUL), recentemente publicada sob o título “Arquitectura e Comensalidade: uma história da casa através das práticas culinárias” (Caleidoscópio, 2016). Está a desenvolver a sua tese de Doutoramento em Estudos Urbanos — sobre a Paisagem Alimentar de Lisboa — na FCSH-UNL e ISCTE-IUL, com o apoio de uma Bolsa de Doutoramento atribuída pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

Registo da conferência de Fernando Rosas, Lisboa Revolucionária | 24 de Abril de 2019